Sem Emenda
Digo que vou aprender a cerzir, por ti,
que trazes buracos na espinhosa lã
das mangas de alpaca em rebelião.
Digo, mas admito que mal me instruí
para te garantir tão vã prorrogação.
A linha que diferirá do tecido usado,
sublinhará a rotina do tal dia adiado.
Tapará com a peneira da humildade
o desgaste dessa rotina sem borrão,
veleidade que só poetas aclamarão.
Tornar-te-ei a heroína da resistência
do quotidiano que promete amanhã
em inocência. Nomeada tua cirurgiã,
suturarando a ponte sobre o buraco,
anestesio no tecido a parte de fraco.
Disfarço-te com braços fortes e castos,
em detalhe esburacados pelo trabalho,
enquanto rangem em sinfonia e gastos
parcos ideais sem honras de cabeçalho,
Vou-me retirar, queimar-te o soutien.
Passajando não se dará pelo teu fim,
nem saberão que a brilhante escrivã
extinguiu das ideias o nosso frenesim.
Um remendo para nos salvar da tinta
que a uns dá história e a outros finta.