45º aniversário PCTP-MRPP

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Feliz ano novo a todos os camaradas que dão corpo à Voz do Operário esta noite.

Chego-vos enquanto independente, cabeça de lista pelo Porto e mandatária nacional para a Juventude ao 45º aniversário do PCTP-MRPP. É este o movimento reorganizativo que retira a minha acção política do anonimato partidário e fá-lo porque afirma a alternativa quanto à participação dos cidadãos na política e no país.

Tal como vós, desprezo a inevitabilidade e a democracia de jugo em que temos suportado o peso das acções que não nos têm em conta e que não revertem em favor da manutenção nem do progresso social. Pressuponho consensual, entre nós, que o objectivo de uma comunidade organizada enquanto nação é alimentar a qualidade de vida dos que a compõem, qualidade essa medida pelos níveis de saúde, educação, cultura, emprego e lazer. Em todos estes indicadores temos perdido a objectividade sob a direcção dos governos ditos democráticos que se têm sucedido.

Economias, entropias e bizarrias têm deixado empoleirados governantes que não representam e afugentam da vida política o comum cidadão. Tornamo-nos impotentes na medida de forças entre a teia legal e a Justiça.

Quer por não ter o seu poleiro, quer por não gostar que lhe caguem em cima, é a gente dedicada, porém frustrada, como eu, que repudia as opções políticas vigentes. Padeço de austeridade com acessos de desemprego precário.

Sou cidadã, de entre muitos, no cinza em que não se imprimem relatórios de Troica.  Para tentar o preto e o branco, a realidade tem muitos medidores, indicadores e adivinhos. Todo o comentador e político de profissão que determina a negação da opção governamental como acto destruidor é intelectualmente um imbecil por definir e define-se, enquanto tal, assim que nega a alternativa de dizer “não”.

O “não” constrói um outro “sim”.

Nenhuma amizade franca se faz de palmadinhas nas costas, nem nenhuma política se faz de anuimento de cabeça baixa. A política é espaço de desejo e não de constrangimento. Os olhos da democracia fixam o horizonte. A prática dos governantes tem-nos fixados nas virilhas.

Instalou-se uma economia de sacrifício, socialmente inoportuna na era das máquinas. A opressão tem cheiro de palavra velha, como a sombra de abutre que se pavoneia no caminho da libertação do trabalho.

Enquanto cada um tomar o trabalho como fronteira final da sua existência estaremos impedidos da mudança. É preciso renunciar a moral de escravo, reformular as associações de sindicância e ter o desemprego por principal inimigo.

A sociedade continua com as suas classes embora essa percepção tenha vindo a ser anulada no discurso associado ao liberalismo. Nada mais conveniente para a manutenção deste caminho deplorável da vida em sociedade que dividir os cidadãos, agora solitários e impotentes perante a angústia, demasiado preocupados em prover o frigorífico e as dívidas, retirando-lhe energia e meios de interferir nas decisões que sobre si recaem.

A “legitimidade” dos números tem ultrapassado programas eleitorais, eleitores e factos. Mesmo que a desgraça fosse de uma minoria, a democracia tem, por princípio, pelo menos considerá-la.

As dívidas soberanas e consequentes actividades executivas dos países têm lesado nitidamente a maioria das suas populações. Substituiu-se a maioria democrática pela maioria burocrática de escritórios de finança em que Estado e empresas tão lucrativas quanto o Estado se diluem.

Que legitimidade têm os mandatos que atraiçoam os seus eleitores?

Que Europa é esta que ignora os aflitos, sejam eles europeus ou sobras dos negócios europeus?

Que Estado é este que esquece o serviço à sua população?

Quem manda aqui?

O Estado é empregado dos cidadãos. Para ser democrático não basta ir a eleições. Junto-me ao PCTP-MRPP pela sua capacidade de dizer “não” à continuidade das opções políticas de austeridade que nos amofinam o destino.

É imperativo introduzir a negação e o protesto como formas válidas de construção do destino de Portugal. É preciso destruir a noção falaciosa de que há apenas um trilho, para mais com sinalização alemã.

Ainda que não seja possível antecipar todas as consequências da rejeição do Euro, é dever patriótico, com vista ao internacionalismo, escolher a independência para que possamos controlar a nossa democracia e obedecer à qualidade de vida pondo no cepo da História, inevitavelmente, o Euro antes da cabeça.

A mudança individual é, por si só e normalmente, uma missão complexa que se adensa quando pensamos colectivamente. Enquanto cidadãos, há que rejeitar o medo que a mudança tem instigado no discurso governamental. Se há medo de mudar, considerem-se maiores receios na espera de uma solidariedade que não mais virá. O capital tem sido a única voz decisiva e a Grécia ou a crise de refugiados são sinais evidentes da incapacidade do projecto europeu vingar sobre uma base humanitária que dizia ser a sua.

A União Europeia tem sido madrasta severa para quem atravessa as dificuldades que ela própria cria em prol do enriquecimento ilícito de grandes grupos de interesse. Ilícito porque assente na opacidade dos seus motivos e na corrupção dos valores sociais, não correspondendo ao projecto europeu de nações irmãs, que todos subscrevemos e, razão pela qual, se torna tão difícil repudiar a União Europeia ao comum cidadão.

A União Europeia clama por valores morais que não pratica.O estrangulamento das nossas condições é uma opção política que tem de ser contrariada. É preciso dizer “não” à mentira da dívida e será impossível fazê-lo esperando a benevolência alemã ou a solidariedade dos restantes estados membros. Todos se apoiam no interesse que encherá os cofres de alguns ou tolherá os movimentos democráticos que sacudam o seu peso.

Dada a impossibilidade matemática de pagar a dívida, a crescente espoliação dos recursos humanos, naturais e materiais do país, o PCTP-MRPP recolhe o meu voto e a minha adesão por desenhar o horizonte no único lugar possível: entre a recusa do pagamento da dívida e a saída do euro. Só daí se pode resolver o que nos aflige. Toda a calamidade social que nos tem acontecido decorre deste desequilíbrio entre a realidade material de um povo e a alucinação económica do capitalismo. O capitalismo vinga entre nós nutrindo o sentimento patente, em maior ou menor grau, de que cada cidadão tem direito a avançar para o quintal alheio pela força da algibeira. Isto “não” está bem. Queremos quintais e algibeiras para toda a gente.

Tudo quanto foi conquista na direcção do bem-estar social, temo-la visto esvair-se sob a chuva metálica da União Europeia de que fazem parte os cegos vencedores do concurso de timoneiro em legislativas nacionais – CDS, PSD e PS.

A inevitabilidade é o veneno que a maioria toma, não só a parlamentar como a cidadã.

A desonestidade não é inevitável. É uma escolha.

A força da maioria parlamentar tem sido a do capital por oposição à humanidade. A força da maioria cidadã representada em parlamentotem sido a montra da desistência,da descrença e da indiferença ao voto ou à mudança.

É urgente dizer “não” à dívida. É obrigatório dizer “não” a quem no-la impõe. É preciso dizer que “não” queremos governantes que “não” nos representam. É preciso compreender que a política “não” se faz à distância de um encolher de ombros.

É preciso comprometer a acção com o passado e com o futuro e “não” alienar o presente. Queremos ser gente hoje.

É preciso dizer “não” a uma economia baseada no serviço.

É preciso dizer “não” às soluções de curto prazo como o turismo que, apesar de necessária, não pode ser única e que só nos educam para a dependência e o servilismo.

É preciso dizer que esta dívida é odiosa já que se instalou a guerra sem armas que vai matando a liberdade e o que morre por último: a esperança.

É preciso rejeitar o novo colonialismoque sangra o vigor e a juventude nacional. Este país “não” é velho. Este país está usado.

O espectro político precisa das cores frescas do sangue novo que jorre a força do “não” para dizer “sim” ao aumento da nossa produção industrial, energética, exploração marítima e diversificação do sector terciário.

Não queremos o que “eles” querem. Somos de outra condição: da condição do trabalho, do mês maior que o salário, da vida mais pequena que a possível.

É preciso dizer que “não” queremos abandonar a nossa terra e muito menos os nossos. Emigrar é chutar um problema para a frente embora compreenda a fuga ao impedimento de construir a vida já.

É preciso instalar que “não” é possível pagar a dívida sem hipotecar a ambição de construção e desenvolvimento.

É preciso provar que “não” admitimos a falta de dignidade e que “não” perdoamos a corrupção do nosso sistema democrático.

É preciso dizer que Berlim “não” é a capital portuguesa.

É preciso dizer que “não” negociamos com criminosos que redigem leis para branquear colarinhos e dinheiro.

É preciso dizer “não” à caridade quando nos rege o princípio da solidariedade. É urgente ser o outro.

O número que a Europa pede aos europeus portugueses é o da maioria parlamentar alinhada cujo poleiro garanta a aprovação e execução de óptimos negócios. A comunidade internacional e os comentadores chamam-lhes “estabilidade”, “governabilidade”, “patriotismo”,“leis” e “reformas”. Chamar-lhes-ia medo, cartelismo, violação e roubo.

Para estancar as decisões danosas da Europa, não pode haver maioria parlamentar em Portugal,
muito menos de direita. Nas próximas eleições legislativas, o único voto útil
é o que fragmente a distribuição do poder parlamentar de tal forma que impeça a União Europeia de impôr leis de degradação da economia e sociedade portuguesas.

Sem lacaios no governo não se podem aprovar medidas à rebelia do escrutínio real ou, pelo menos, discussão real sobre as soluções à disposição. A solução não passa, de todo, por continuar a dizer “sim” à Europa de Merkel e ao barregar dos restantes. Lutar contra a maioria parlamentar não é uma solução: é um passo em direcção à segurança nacional e à possibilidade de escolha democrática sobre o destino do país.

É preciso negar o mais possível o pesadelo das gerações futuras e assumir responsabilidade pelo nosso tempo em favor da felicidade delas.

Parar é sobretudo importante quando nos dizem ser impossível travar. É preciso sonhar de novo. É preciso lutar todos os dias.

Por não haver outro partido que declaradamente proponha abandonar o jugo do Euro, é preciso convocar o voto no PCTP-MRPP dia 4 de Outubro.

Obrigada e até amanhã.

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