Classe
a partir de Miguel Relvas
– Já em casa?
– Não, trabalho.
– Vais demorar-te?
– Não, a caminho do metro.
– Vem cá.
– Frio, pah.
– Meeehh
– Isso é ruminante?
– Muuuuuu
– Este também é eh eh
– Bah
– ‘Da-se! Sabes as onomatopeias todas!
– Anaki!
– Bóbó?
– Pronto(s).
Agora viro-me para ti.
Tu que empunhas um pincel afogado na tinta espessa
de tudo quanto querias dizer e só tens um cartão.
Um cartão de visita às praças da cidade,
de preferência as maiores
a ver se mais te reconhecerão.
Nas costas dele o resto da publicidade
– da que se governa com a tua condição.
olhas o cartão no teu modo pessoal…
… dispões o trilho do vão sentimental.
… fantasmas caligrafias com o espírito da súmula
das mãos e do peito polposo panaceias aos povos.
Há tanto caroço enterrado no flagrante
que, por mais que dês voltas ao prado,
será para revolver a circularidade
em que anda rebanho enredado,
a tolhida classe ruminante.
Trombose rotunda e contínua tida nos dentes,
nas bocas desalinhadas com o horizonte
estreitas e curtas, de um tardio poente,
barregando a coragem a monte, caminho,
serpentes,
bestiários,
homens,
religiosos
e outras gentes,
todos:
erva daninha
e dois
estômagos contentes
de casco nas pedras
à espera da Páscoa.