Soneto da Singradura
Preciso de chegar durante a hora insulsa,
sem denunciar os ares de quem cozinha,
e com muda especiaria da nau que pulsa
executar a invisível receita da entrelinha.
Fazer um dia o que se promete na vida
e, por meias palavras, tornar parturiente
a nesga fresca da consciência expandida
partidária do imprevisto, rasgo e acidente.
Emprenhar o apocalipse para lhe sobreviver
e na pele azulada verter chama e monção
pois que um dia não chega para florescer
muito menos morrer de extrema unção.
Orçar a isopórica na direcção do alento
com a dignidade de existir de momento.